Amauri Nolasco Sanches Junior
Quando eu era um pouco mais jovem, sempre me perguntava o porque eu ter nascido com alguma deficiência. Claro que ficamos bem mais velhos e entendemos algumas coisas que não entendiamos quando somos bem mais jovens. Eu adquirir minha deficiência quando faltou oxigênio no meu cérebro na hora do parto – apesar que há bastante controvérsia em torno da paralisia cerebral, que já foi estudada até mesmo por Freud quando fez uma pesquisa quando exercia medicina – e também, segundo minha mãe sempre dizia, ela achava que minha deficiência tinha piorado depois da minha pneumonia quando eu era bem pequeno. Mas, sou cadeirante e fico de pé segurando, pois, não tenho equilíbrio para ficar em pé sozinho.
A questão sempre foi o motivo de eu ser o único em ter deficiência na minha família – hoje eu tenho um priminho com síndrome de down – e assim, eu achava que tinha algo por trás. Meu pai fez de tudo para reverter minha deficiência e fez de tudo para reagir, na melhor maneira possível, aceitar eu com essa deficiência. Procurei na religião, mas, s religiões não me mostraram nada dentro do espectro espiritual (nada que eu não achasse que era longe demais para serem verdade). Mas, foi nos livros que as coisas se tornaram bastante amenas. O motivo não sei – vários motivos espirituais me foram apresentados, mas, não acho que minha deficiência seja um castigo ou uma coisa sem explicação – mas, comecei a ter muito mais cultura e comecei a indagar muito mais do que indagava.
A deficiência sempre foi um assunto religioso e várias crenças em torno dos deficientes foram sempre uma incógnita dentro da humanidade. Em Esparta, por exemplo, as crianças recém-nascidas eram examinadas, se tivessem fracas ou com qualquer deformidade (deficiência) eram jogadas dentro de um abismo e morriam. Quantos reis eles perderam com essa atitude? Ou pensadores que nunca mostraram sua capacidade? Pois, nos dias de hoje, já e provado muitas pessoas com deficiência que mostram o seu valor e suas ideias e até mesmo, um dos maiores cientistas na nossa era, tinha uma deficiência degenerativa (ELA) e sentou na cadeira que foi de Issac Newton. Stephen Hawkins foi uma mente magnífica e viveu 76 anos muito bem vividos. Também hoje sabemos, que várias das mentes brilhantes da história foram pessoas que tinham alguma deficiência.
Como a filosofia me ajudou na questão da deficiência? Na verdade, a filosofia foi a porta de entrada para muitas questões que vão da biologia e vai até mesmo, algumas questões dentro da própria religião. Por que eu deveria ser castigado por uma coisa que não lembro? Por que minha deficiência deveria ser um mistério guardado pela divindade? Porém, deveríamos indagar a questão do corpo belo, a beleza e a perfeição que tanto a humanidade sustenta e não temos como medir essa perfeição. A questão é que dentro da natureza não existe nem uma simetria perfeita, assim como, não existe nenhuma perfeição corporal. Em algum modo, as pessoas têm deficiência e a deficiência sempre fez parte da humanidade.
Chegamos a uma terrível conclusão – que esqueceram de dizer para os médicos – que não sabemos o que pensamos que sabemos. Porque, sem dúvida nenhuma, só podemos ter certeza da minha existência e posso, metodicamente, duvidar da existência do outro. Porque, se fomos bastante radicais (radical vem de raiz), com ou sem deficiência, nós pensamos e a partir do nosso pensamento nós temos a plena certeza que existimos. Essa fórmula cartesiana – que veio do filósofo francês do século dezesseis Rene Descartes, pois seu nome em latim era Renatus Cartesius – nos deu a base de medir a forma de consciência de um ser, o único erro possível de Descartes foi achar que o ser humano é só pensamento (res cogitans). Porém, se eu tenho certeza que eu estou consciente das minhas ideias e sei o que está em minha volta, sei que penso e se sei que eu penso, sei que eu existo.
Claro, a fórmula é bem simples, se eu sei que não sei de nada, sei que penso e logo existo. Porém, sei que se existe uma deficiência, isso não impede de eu pensar e se eu penso, sou um ser humano com consciência. Allan Turing – foi o pai do computador moderno – dizia que não é que uma coisa pensa diferente que ela não pensa. Mesmo dentro da humanidade, as pessoas não pensam tanto, mesmo o porquê. o poder sempre teve o monopolio do conhecimento. O filósofo grego que viveu trezentos anos antes de Cristo, Sócrates, que teve uma condenação estranha, pois, foi morto porque corrompia a juventude. Certamente, por ser um filósofo indagador, tenha mexido com várias correntes que não deveria mexer. Seu aluno, Platão, carregaria essa aversão a democracia por toda a sua vida e a sua filosofia – dentro da sua obra A República – era dizer que a melhor politica é a do filósofo e sua filosofia. Para Platão, o melhor governante é aquele que enxerga os problemas e sabe resolver e sabe um pouco de tudo, mas, Platão teve sua chance de provar sua teoria e deu errado. Além da politica platônica, temos a politica aristotélica de um filósofo aluno de Platão, mas, não concordava de algumas posições do mestre. Aristóteles dizia que a arte da politica é a arte da ética, portanto, Platão dizia que um governante tinha que ter um conhecimento vasto e esse conhecimento deveria ser usado para melhor gerir a polis. Já Aristóteles, não basta ter o conhecimento sem uma base moral e ética dentro da polis para realizar um bem possível para todos. Todo ser humano, dizia Aristóteles, eram animais sociais e portanto, eramos animais que vivianos em sociedade e vivianos para realizar o maior bem possível.
Tanto Platão, quanto Aristóteles, estavam certos, pois, o melhor governante é aquele que tem o conhecimento e buscar governar com ética. Ou seja, dentro da deficiência, buscar saber como e quais as politicas de inclusão temos e se é justo ter pessoas que podem trabalhar, mas, não trabalham por causa do preconceito. Que aliás, um filósofo do século vinte que era francês – viveu e atuou durante os anos sessenta – Michel Foucault, dizia que tudo dependia do discurso. Então, ficamos presos em uma cadeia viciosa por anos, por causa do discurso do poder que dura século que hoje não existe mais. O preconceito é a prova clara que não evoluímos o bastante, ou seja, evoluímos a tecnologia, mas, não evoluímos enquanto espécie. Portanto, a diferença de um ser humano moderno e um espartano é como lhe dá com a questão da deficiência, pois, a humanidade continua a rejeitar as pessoas que, teoricamente, sofrem e não podem produzir. Existem empresários que ainda acham, que as escolas dão diplomas para pessoas com deficiência, somente por causa de um agrado, sem nenhum merecimento.
A filosofia me deu o poder de perguntar o porque que as pessoas acham que somos sofredores, acham que somos inúteis e acham que não podemos pensar. Conclui que não é verdade e que tanto a perfeição, quanto o sofrimento, são coisas bastante subjetivas e dependem como olharmos nossa realidade. Mas, o que é real? Será que comerciais de cerveja são reais? Será que pessoas com deficiência em série e novelas são, realmente, pessoas com deficiência na realidade? Uma outra questão bastante importante: será que todas as pessoas com deficiência são tratadas com isonomia? Pelo que vimos no poder publico, não é bem assim. Enquanto existem pessoas com deficiência que recebem do BPC/LOAS um salário-mínimo, pessoas como Lais Souza recebem o teto que é, mais ou menos, cinco mil reais. Aqui em São Paulo, temos um transporte porta a porta chamado ATENDE+, que os movimentos têm só o direito de pedir para eventos e até uma seis horas da tarde, enquanto isso, liberam 78 vans para a Copa América que é um exagero. Como fica a ética aristotélica? Como fica a questão de igualdade? Sabemos que a politica, num modo geral, é utilitarista e ponto, é um fato sólido. Se faz coisas para um bem- estar da maior parte das pessoas e não ver, se todas merecem ou não, desse beneficio.
Ainda tem a máxima do filósofo alemão Nietzsche – que viveu no século dezenove – que dizia que tudo que não nos mata, nos fortalece. Lembrei na época que vivi momento difíceis na adolescência, quando ninguém achava que era digno de namorar comigo. Muitas pessoas me falavam que não achava que eu era a pessoa para ela, que eu era alguém especial. Hoje eu encontrei o amor da minha vida, mas, não era fácil ver as pessoas namorarem e eu as pessoas dizendo não eram dignas de mim. Mais ou menos, como Sócrates que foi chamado do homem mais sábio de Atenas e ele, não se conformou com isso. O que eu tinha de especial que eu não achava nada especial? Hoje, eu sou uma pessoa muito mais forte e decido o que é ou não, prioritário na minha vida. Sou uma pessoa que não ligo para críticas – eu fico indignado por não entender certas coisas – e não fico nervoso mais com situações. Será que aquilo que me matou me fortaleceu?
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