sábado, 29 de junho de 2019

Principio da educação





No livro Metafísica de Aristóteles: “Todos os homens, por natureza, desejo de saber. Uma indicação disso é a delícia levarmos em nossos sentidos, mesmo para além da sua utilidade eles são amados por si próprios, e acima de todos os outros, o sentido da vista.” Ou seja, todo ser humano que persegue o seu intuito de saber algo será alvejado de vontade de sempre procurar aquilo, aprender como ser processa aquilo até alcançar; o principio da educação é esse, sempre despertar ao homem esse desejo inato de sempre saber.

Só que inocentemente, o ser humano usa fonte pouco confiáveis para tal meta, pois sempre não vê os dois lados daquele saber. Todos pensam que saber é o portal para o paraíso, mas como disse o mestre de Aristóteles, Platão, saímos de uma caverna e quando voltamos a essa para salvar os outros, esses outros rirem de nossas caras. Pensam eles que não estamos vivendo o mundo de verdade que eles chamam de realidade, mas não sabemos o que é realidade até descobrimos nossas próprias conclusões; pois de nada vale uma realidade que os outros nos impõe e sim o que pensamos ser. Muitos pensadores hoje, tem a idéia errada de um estado real, um estado mitológico, porque hoje tudo se mistura, tudo é uma coisa só. Como saber, por exemplo, realmente se o homem foi realmente a lua? Para mim é um fato mitológico, pode ter havido milhões de situações que põe em duvida tal ato, que milhares de pessoas acreditam piamente.

Mas a questão é outra, a questão é o que fazemos de nossas imagens, seja de algo lido ou de algo visto um aprendizado de uma realidade. São conjuntos de mecanismos que se juntam e que de alguma maneira nos faz pensar em uma imagem da dita realidade. Posso ver um sujeito nas minhas condições e fazer dele um sujeito inútil, só porque recebi uma imagem coletiva, que um sujeito em uma cadeira de rodas seja um inútil; não importa o que ele faça, sempre estará sujeito a esse tipo de imagem. No geral é isso que acontece no ser humano, ele cria conceitos que vão carregar por toda a vida e nada que digamos fará desistir desta imagem. Talvez por isso que muitos preconceitos aparecem, visões distorcidas de uma educação errada, de culturas marcadas pela dominação estética perfeita, o ser humano vem trazendo para si mesmo o declínio e não a ascensão.

Se todo homem deseja saber, como bem disse Aristóteles, o ser humano deveria deixar essas visões distorcidas pré- históricas que pensam ainda estarem em clãs tribais. Não estamos mais nesses clãs e não temos mais este conhecimento rudimentar de não achar saídas para essas imagens, seja no lado mitológico que fazemos das imagens que nos dão, ou nas imagens que entendemos como realidade. Agora, quem nos dá as primeiras expressões de que nos damos como realidade? Uns dizem que as escolas devem ter esses papeis, que as imagens que vamos levar pela nossa vida são da escola; mas as primeiras imagens que fazemos são em nossa própria casa. Como bem disse Kant, as virtudes que nós carregamos sempre vem no colo de nossas mães, não temos em nenhum recanto além, as primeiras impressões do mundo.

Mas uma pergunta importante me faz refletir sobre isso: o que seria a realidade? O que é um ser real que vangloria nas sendas da sabedoria que o ser humano ainda não caiu em questão? Talvez não vão me dar o mérito de especular tal senda, porque advogo que há meios além para saber que essa realidade é totalmente relativa. Por que digo isso? Muitas pessoas se confundem em querer que aquilo seja real e aquilo que é real, uma coisa não traz a outra por serem bases distintas por si mesmo.

O querer que seja real é a idealização de uma realidade que só existe na mente de quem a presume, não há em formas concretas, uma forma de se provar que aquilo existe ou não. O que é existir em forma concreta? É a visualização daquilo que se presume ser verdade, uma situação que realmente ocorreu, que não pode ser negada. Mas se pode adulterar esse existir com imagens falsas, sem um critério absoluto de autocrítica, pois não negamos o fato por ele acontecer ou não, mas vamos acreditar porque nos mostraram. Quem mostrou também pode está iludido, não temos como saber, ai se faz as lendas e os fatos que a maioria acredita; sempre lembrando, que um fato só forma na realidade, quando acreditamos nele ou não. Pode ser, talvez, que essa realidade que veio de Platão que tudo passa pela racionalidade e Descartes reforçou com seu método, seja uma tentativa de não mostrar a realidade, mas um modo de pôr ela realmente no âmbito da analítica sintética de algo concreto. Quando vejo um pão, por exemplo, não digo que é um conjunto de massa feita de farinha e de outros componentes, simplesmente o chamo de pão. Neste caso o agente de minha realidade é eu, porque posso ver o pão e não fazer juízo desse pão como algo real, pode ser uma miragem no meio de um deserto, ou pode ser uma alucinação graças a alguns copos a mais de vinho. Como saber se é real? Como saber se o tal político está dizendo a verdade de fato? Que aquele acontecimento não seja falso? Talvez possa ser alimentação de nossas próprias utopias dentro do que fazemos da realidade, dentro do que fazemos de nossos próprios conceitos ou preconceitos.

O principio educacional se alimenta dessa visão porque aquele que o a tem, vai passar para aquele que está aprendendo a ter, está descobrindo essa realidade no molde principal do método. Quando uma criança taxa alguma imperfeição de seu colega de colégio é culpa da escola? A noção perfeita estética veio nas primeiras expressões na escola? Não, teremos sim essas impressões dentro do núcleo familiar, dentro da base educacional familiar e não a sociedade, pois a sociedade é a própria agente da sua realidade. Será que como foi mostrado por Platão, vivemos numa caverna cuja realidade é apenas as sombras que nos querem mostrar? Será que toda essa suposta realidade é apenas um jogo de linguagem que nos fazem confundir? Não sabemos ao certo.

Talvez o grande problema que o ser humano enfrenta quando recebe a educação é o que fazer com ela, um recebimento de um conhecimento é um meio de linguagem que alcançamos para dar o que achamos ser real e útil. “Achar” é ter certeza? Uns dizem que sim, mas muitos estudiosos vão dizer que achar é uma forma vaga de ter certeza daquele conhecimento; tudo em nosso mundo é feito daquilo que fazemos dele, é a maneira no qual o expressamos para as outras pessoas. Tudo que existe são símbolos semânticos que usamos como linguagem, por exemplo, quando dizemos que há cinco maçãs dentro da cesta, estou afirmando que dentro de uma cesta que determino há cinco maçãs. Pode ser que não exista, mas sei o que é cinco (3+2) e sei o que é maçã (fruto da macieira), então faço uma construção com o numero de objetos e o objeto em si mesmo. O que será “em si mesmo”? É algo que se expressa por si, não põe em duvida sua existência dentro do mundo no qual fazemos, a maçã é um fruto o qual milhares de gerações foram familiarizadas com elas e por milhares de anos elas são chamadas de “maçãs”. O mesmo diremos com o cinco, pois foi uma maneira de expressar o conteúdo de objeto e foi muito bem sucedido; ao longo da cultura de vários séculos, ouve algarismos para simbolizar esse numero, mas a idéia, foi bem exposta.

Talvez a maneira de expressarmos nossas idéias sejam as vezes maneiras erradas, como eu dizer que vou tomar banho. Eu estou afirmando que “vou” tomar um banho, pois minha vontade fará que meu corpo ponha potencia no meu ato e então o ir fica evidente por si mesmo. Fica diferente se eu dizer para outra pessoa assim, se posso tomar banho, pois o “posso” , põe meu ato dependente do outro, minha liberdade está determinada por outros; assim a grande maioria da massa, pensa e dá aos “outrens”, a potencia de sua própria determinação. Muitos chamam isso de alienação, ou seja, se criam imagens para enganar a percepção de quem esta vendo e criam uma realidade que não é verdadeira. Aliás, uns dos grandes desafios do pensamento humano é mostrar a realidade, onde nem a religião mostrou com suas explicações teológicas sobre a criação (falo das religiões institucionais), nem a ciência que mostra explicações superficiais sobre a realidade e a verdadeira busca do verdadeiro conhecimento.

O conhecimento é o ousar, isso foi dito por Kant e mostra verdadeiramente a meta racional humana, ousar tem que ir muito além do limite daquilo que nos mostram, é duvidar das cinco maçãs, é duvidar que o outro pode me dar condição de meu banho. A linha de raciocínio cartesiana esta um pouco equivocada, porque deveria ser “duvido, logo penso”, porque o pensar começa no ato da duvida e pôr em duvida faz de nós seres racionais. Eu, por exemplo, posso por em duvida a ida do homem a lua por muitos motivos, que para mim, são motivos muito bem pensados que vão ter base nisso tudo. Se realmente foi ou não, para mim não implicara em nada minha vida, mas para muitas pessoas isso é um grande “marco” da historia da humanidade. Costumo sempre ousar, sair do senso comum, atestar verdade prontas e acabadas que perdem o sentido da educação, do saber humano no intuito de conhecer; o ser humano teima ainda em ficar na caverna vendo sombras de pseudo verdades. Onde está o racional nisso?

A ousadia faz do ser humano dono do seu próprio conceito e dono de seu próprio mérito, o dia é dia porque nossos antepassados regularam o tempo e fizeram o período temporal para que nós tivéssemos limite. Na verdade, o tempo foi inventado para as fabricas, colégios e afins, regulassem suas atividades e fizessem seus professores, chefes, alunos a obedecerem as agendas, mas nada disso existe efetivamente como ordem universal. O que é um fato? O que é uma coisa? Coisas são objetos manipuláveis, fatos são objetivos que saem de nossas mentes que impulsionam nossa vontade. O intuito de toda a educação é o alastramento de fatos que fazemos; a origem da idéia e da ação de tal idéia, o cogito cartesiano que penso e assim sei de minha própria existência, ou seja, toda existência começa por si mesmo e se expande. Nesse expandir, tudo que originou aquilo vai multiplicar e se tornar ação que teve uma causa. Que causa é essa? O ousar deveria ser a causa, mas muitas pessoas não querem e não podem ousar por medo de fantasias ou um mundo real que elas próprias constroem. Só tenho uma conclusão a dizer, reduzimos nossos saberes em telas de televisões, dizeres de sacerdotes e mais ainda, fazemos delas sombras de nossa própria mente e isso é muito perigoso.