segunda-feira, 15 de julho de 2019

A filosofia e a deficiência







Amauri Nolasco Sanches Junior



Quando eu era um pouco mais jovem, sempre me perguntava o porque eu ter nascido com alguma deficiência. Claro que ficamos bem mais velhos e entendemos algumas coisas que não entendiamos quando somos bem mais jovens. Eu adquirir minha deficiência quando faltou oxigênio no meu cérebro na hora do parto – apesar que há bastante controvérsia em torno da paralisia cerebral, que já foi estudada até mesmo por Freud quando fez uma pesquisa quando exercia medicina – e também, segundo minha mãe sempre dizia, ela achava que minha deficiência tinha piorado depois da minha pneumonia quando eu era bem pequeno. Mas, sou cadeirante e fico de pé segurando, pois, não tenho equilíbrio para ficar em pé sozinho. 


A questão sempre foi o motivo de eu ser o único em ter deficiência na minha família – hoje eu tenho um priminho com síndrome de down – e assim, eu achava que tinha algo por trás. Meu pai fez de tudo para reverter minha deficiência e fez de tudo para reagir, na melhor maneira possível, aceitar eu com essa deficiência. Procurei na religião, mas, s religiões não me mostraram nada dentro do espectro espiritual (nada que eu não achasse que era longe demais para serem verdade). Mas, foi nos livros que as coisas se tornaram bastante amenas. O motivo não sei – vários motivos espirituais me foram apresentados, mas, não acho que minha deficiência seja um castigo ou uma coisa sem explicação – mas, comecei a ter muito mais cultura e comecei a indagar muito mais do que indagava. 


A deficiência sempre foi um assunto religioso e várias crenças em torno dos deficientes foram sempre uma incógnita dentro da humanidade. Em Esparta, por exemplo, as crianças recém-nascidas eram examinadas, se tivessem fracas ou com qualquer deformidade (deficiência) eram jogadas dentro de um abismo e morriam. Quantos reis eles perderam com essa atitude? Ou pensadores que nunca mostraram sua capacidade? Pois, nos dias de hoje, já e provado muitas pessoas com deficiência que mostram o seu valor e suas ideias e até mesmo, um dos maiores cientistas na nossa era, tinha uma deficiência degenerativa (ELA) e sentou na cadeira que foi de Issac Newton. Stephen Hawkins foi uma mente magnífica e viveu 76 anos muito bem vividos. Também hoje sabemos, que várias das mentes brilhantes da história foram pessoas que tinham alguma deficiência. 


Como a filosofia me ajudou na questão da deficiência? Na verdade, a filosofia foi a porta de entrada para muitas questões que vão da biologia e vai até mesmo, algumas questões dentro da própria religião. Por que eu deveria ser castigado por uma coisa que não lembro? Por que minha deficiência deveria ser um mistério guardado pela divindade? Porém, deveríamos indagar a questão do corpo belo, a beleza e a perfeição que tanto a humanidade sustenta e não temos como medir essa perfeição. A questão é que dentro da natureza não existe nem uma simetria perfeita, assim como, não existe nenhuma perfeição corporal. Em algum modo, as pessoas têm deficiência e a deficiência sempre fez parte da humanidade. 


Chegamos a uma terrível conclusão – que esqueceram de dizer para os médicos – que não sabemos o que pensamos que sabemos. Porque, sem dúvida nenhuma, só podemos ter certeza da minha existência e posso, metodicamente, duvidar da existência do outro. Porque, se fomos bastante radicais (radical vem de raiz), com ou sem deficiência, nós pensamos e a partir do nosso pensamento nós temos a plena certeza que existimos. Essa fórmula cartesiana – que veio do filósofo francês do século dezesseis Rene Descartes, pois seu nome em latim era Renatus Cartesius – nos deu a base de medir a forma de consciência de um ser, o único erro possível de Descartes foi achar que o ser humano é só pensamento (res cogitans). Porém, se eu tenho certeza que eu estou consciente das minhas ideias e sei o que está em minha volta, sei que penso e se sei que eu penso, sei que eu existo. 


Claro, a fórmula é bem simples, se eu sei que não sei de nada, sei que penso e logo existo. Porém, sei que se existe uma deficiência, isso não impede de eu pensar e se eu penso, sou um ser humano com consciência. Allan Turing – foi o pai do computador moderno – dizia que não é que uma coisa pensa diferente que ela não pensa. Mesmo dentro da humanidade, as pessoas não pensam tanto, mesmo o porquê. o poder sempre teve o monopolio do conhecimento. O filósofo grego que viveu trezentos anos antes de Cristo, Sócrates, que teve uma condenação estranha, pois, foi morto porque corrompia a juventude. Certamente, por ser um filósofo indagador, tenha mexido com várias correntes que não deveria mexer. Seu aluno, Platão, carregaria essa aversão a democracia por toda a sua vida e a sua filosofia – dentro da sua obra A República – era dizer que a melhor politica é a do filósofo e sua filosofia. Para Platão, o melhor governante é aquele que enxerga os problemas e sabe resolver e sabe um pouco de tudo, mas, Platão teve sua chance de provar sua teoria e deu errado. Além da politica platônica, temos a politica aristotélica de um filósofo aluno de Platão, mas, não concordava de algumas posições do mestre. Aristóteles dizia que a arte da politica é a arte da ética, portanto, Platão dizia que um governante tinha que ter um conhecimento vasto e esse conhecimento deveria ser usado para melhor gerir a polis. Já Aristóteles, não basta ter o conhecimento sem uma base moral e ética dentro da polis para realizar um bem possível para todos. Todo ser humano, dizia Aristóteles, eram animais sociais e portanto, eramos animais que vivianos em sociedade e vivianos para realizar o maior bem possível. 


Tanto Platão, quanto Aristóteles, estavam certos, pois, o melhor governante é aquele que tem o conhecimento e buscar governar com ética. Ou seja, dentro da deficiência, buscar saber como e quais as politicas de inclusão temos e se é justo ter pessoas que podem trabalhar, mas, não trabalham por causa do preconceito. Que aliás, um filósofo do século vinte que era francês – viveu e atuou durante os anos sessenta – Michel Foucault, dizia que tudo dependia do discurso. Então, ficamos presos em uma cadeia viciosa por anos, por causa do discurso do poder que dura século que hoje não existe mais. O preconceito é a prova clara que não evoluímos o bastante, ou seja, evoluímos a tecnologia, mas, não evoluímos enquanto espécie. Portanto, a diferença de um ser humano moderno e um espartano é como lhe dá com a questão da deficiência, pois, a humanidade continua a rejeitar as pessoas que, teoricamente, sofrem e não podem produzir. Existem empresários que ainda acham, que as escolas dão diplomas para pessoas com deficiência, somente por causa de um agrado, sem nenhum merecimento. 


A filosofia me deu o poder de perguntar o porque que as pessoas acham que somos sofredores, acham que somos inúteis e acham que não podemos pensar. Conclui que não é verdade e que tanto a perfeição, quanto o sofrimento, são coisas bastante subjetivas e dependem como olharmos nossa realidade. Mas, o que é real? Será que comerciais de cerveja são reais? Será que pessoas com deficiência em série e novelas são, realmente, pessoas com deficiência na realidade? Uma outra questão bastante importante: será que todas as pessoas com deficiência são tratadas com isonomia? Pelo que vimos no poder publico, não é bem assim. Enquanto existem pessoas com deficiência que recebem do BPC/LOAS um salário-mínimo, pessoas como Lais Souza recebem o teto que é, mais ou menos, cinco mil reais. Aqui em São Paulo, temos um transporte porta a porta chamado ATENDE+, que os movimentos têm só o direito de pedir para eventos e até uma seis horas da tarde, enquanto isso, liberam 78 vans para a Copa América que é um exagero. Como fica a ética aristotélica? Como fica a questão de igualdade? Sabemos que a politica, num modo geral, é utilitarista e ponto, é um fato sólido. Se faz coisas para um bem- estar da maior parte das pessoas e não ver, se todas merecem ou não, desse beneficio. 


Ainda tem a máxima do filósofo alemão Nietzsche – que viveu no século dezenove – que dizia que tudo que não nos mata, nos fortalece. Lembrei na época que vivi momento difíceis na adolescência, quando ninguém achava que era digno de namorar comigo. Muitas pessoas me falavam que não achava que eu era a pessoa para ela, que eu era alguém especial. Hoje eu encontrei o amor da minha vida, mas, não era fácil ver as pessoas namorarem e eu as pessoas dizendo não eram dignas de mim. Mais ou menos, como Sócrates que foi chamado do homem mais sábio de Atenas e ele, não se conformou com isso. O que eu tinha de especial que eu não achava nada especial? Hoje, eu sou uma pessoa muito mais forte e decido o que é ou não, prioritário na minha vida. Sou uma pessoa que não ligo para críticas – eu fico indignado por não entender certas coisas – e não fico nervoso mais com situações. Será que aquilo que me matou me fortaleceu?

#1 #filosofia #BandLixo

sábado, 6 de julho de 2019

Inteligencia e Deus – uma conversa com filósofos engarrafados acadêmicos







Amauri Nolasco Sanches Junior





Em um grupo de filosofia havia uma pergunta assim: 

É possível alguem se dizer inteligente e acreditar em Deus? 

A muito tempo eu venho vendo – desde o falecido Orkut e muito antes, nos grupos do Yahoo – que há filósofo por curiosidade, e há filósofo que estuda mesmo a matéria. E eu, como sou uma pessoa bastante curiosa, sempre vivi em vários grupos, de ciência até esoterismo. Mas, eu sou uma pessoa que busco na leitura suprir essa minha curiosidade dentro das grandes questões humanas, porque são questões fundamentais para a humanidade. Então, eu leio de tudo e não tenho a mania de rotular maneiras de escrever ou maneiras de ler e não desprezo a religião por completo, porque ela sempre foi uma tentativa de colocar dentro de uma pauta, que sempre tivemos curiosidade de saber. A pergunta certa é: de onde viemos? Por que existimos? 

Vamos imaginar um ser humano que percebeu que existe uma realidade, existe uma dinâmica da vida e essa dinâmica tem uma certa lógica. Até o século dezenove, haviam várias teorias que quebravam a narrativa bíblica, que o homem e a mulher foram feitos por um ser divino já prontos. Hoje, graças a teoria da evolução de Darwin, sabemos que somos parte animal evolutiva dentro de um ecossistema que vai evoluindo conforme o ambiente mais adequado. Há ainda várias perguntas, pois, a evolução não acaba com certas dúvidas, mas, joga luz em outras que faltavam para entender as mudanças animais dentro da fauna global. Hoje sabemos – graças a um mapeamento genético – que insetos são parentes, por exemplo, dos crustáceos. Ou seja, os camarões são parentes das baratas e por ai vai. Ao que parece, todo o universo tem uma evolução, graças aos bits de informações que todo tempo vem construindo as milhões de realidades. 

Se essa realidade existe informações que moldam a realidade, da onde vem essas informações para a construção do nosso universo? Podemos colocar que a realidade são átomos que se juntaram para construir objetos, pessoas e seres. Vida começa com ácidos que se juntam e começam a criar moléculas que começam a ter uma dinâmica e começam a evoluir. Mas, por que a vida começou? Porque até então, só existiam pedras, rochas e vulcões em erupções. Por que sabemos tudo isso? Graças as perguntas básicas que seres humanos espantados começaram a perguntar: qual o sentido da vida? Será que a vida começou por um ser divino ou foi um acaso? 

Se for um ser divino podemos constatar que há um propósito, mas, se for ao acaso podemos dizer que não há propósito nenhum. Se não há nenhum propósito, então a pergunta ficaria assim: por que o universo desperdiçaria milhões de bits de informação e energia para aparecer vida do acaso? Mas por outro lado, qual o propósito de uma vida de sofrimentos, de tragédias e de tudo que passamos dentro do planeta Terra? Será que isso tudo é uma simulação de um grande computador que somos parte de um jogo? Acho que ninguém respondeu definitivamente. Há explicações interessantes como as religiões védicas, as vertentes budistas, a religião judaico-cristã e o islamismo. Por outro lado, tem outras religiões que também explicam muito bem o propósito da vida e tudo que pode, por ventura, saber o porque existe a vida. 

Um dos erros do autor da pergunta é não saber formular essa perguntar, porque se alguém se diz inteligente, ela se torna dona da sua ignorância. Ora, se é possível que um ser inteligente – muito provavelmente, ele quis dizer uma pessoa culta – acreditar num acaso, porque não acreditar em um ser divino? Agora, se ele colocar no fanatismo, se há pessoas que se fanatizam mesmo estando em uma cultura vasta, daí, eu estou com ele no espanto. Einstein, que foi um dos maiores cientistas do século 20, dizia que acreditava no Deus de Espinosa. Ou seja, nada de um ser barbudo e num trono de ouro, e sim, uma energia que vai moldando o universo conforme a necessidade dele. 

O autor da pergunta, assim como a maioria dos ateus militantes, não estudam todas as religiões e não estudam a história da religião. E como demostrei na explicação – embora, muito teólogos renegam por acreditar na bíblia cegamente – a ciência está respondendo perguntas religiosas e perguntas filosóficas de muitos milênios atrás. Aliás, muitas religiões esotéricas dizem que os pilares do conhecimento é a religião, a filosofia e a ciência. Esses três pilares são os pilares que demonstram uma resposta dentro da premissa da responta se existe ou não um ser divino. E temos que ler as 3 questões para responder essa pergunta, porque se fomos bem no ângulo dos 3 pulares vamos chegar até mesmo, no teorema de Pitágoras. Um triângulo que fez os egípcios desenvolverem as pirâmides. Aliás, dentro da numerologia – embora, os cientistas não reconheçam como ciência – é um número forte e completo, que sempre trara três vias. 

Então, podemos reformular a pergunta: é possível um Deus num universo evolucionário? Sim. Seria muito mais interessante pensar em Deus que queria seres ou um universo, que ficasse mais evoluído conforme fosse criado informação. A realidade nada mais é, do que objetos e objetivos.

segunda-feira, 1 de julho de 2019

Nietzsche e Deus



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Amauri Nolasco Sanches Junior



Há uma passagem do livro A Gaia Ciência de Nietzsche, que, claro, foi muito distorcido por razões óbvias. Mas, como não temos uma educação histórica e nem uma educação filosófica – porque nossa cultura ainda acha que filósofo só idealiza – ainda vimos muitas aberrações. Vou até além, existem tantos professores de filosofia como estudantes de filosofia, que não sabem nem mesmo, formular uma pergunta. Ora, Nietzsche começa assim o aforismo §125 chamado O Homem Louco: 

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<<Não ouviram falar daquele homem louco que em plena manhã acendeu uma lanterna e correu ao mercado, e pôs-se a gritar incessantemente: 'Procuro Deus! Procuro Deus!'?>>


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Quem é esse homem louco? Será que é aquele que precisa de um apoio metafisico para dar sentido a sua vida ou são seres humanos presos em conceitos? Sempre bom lembrar, que o livro A Gaia Ciência é uma crítica a ciência no mesmo molde do que a religião, ou seja, para Nietzsche o ser humano tirou o “deus” metafisico para divinizar a “deusa” ciência. Como se todos os males pudessem ser resolvidos. Mas, tem um outro lado nessa história toda, Nietzsche dizia que o ocidente tinha matado os verdadeiros valores, os valores nobres dos fortes, para serem submissos pelos valores dos fracos, aqueles que não conseguem vencer, aqueles que não sabem chegar lá. Então, o filósofo alemão, inúmera todas as coisas que acabarem com esses valores e todas as suas previsões culminaram nos genocídios do século vinte. Para ele o homem não é só racional, existem os sentimentos. A racionalidade e a lógica se dominassem, como dominou, teria uma grande parcele de culpa das maiores barbaridades humanas. Cada um é o que é. Mas, o homem louco é aquele que procura uma razão, um sentimento de poder viver nesse mundo, mas, ele procura e não acha. Deus é o motivo da vida e os reis valores. 

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<<<O homem louco se lançou para o meio deles e trespassou-os com seu olhar. ‘Para onde foi Deus’, gritou ele, ‘já lhes direi! Nós o matamos – vocês e eu. Somos todos seus assassinos! Mas como fizemos isso? Como conseguimos beber inteiramente o mar? Quem nos deu a esponja para apagar o horizonte? Que fizemos nós, ao desatar a terra do seu sol? Para onde se move agora? Para onde nos movemos nós? Para longe de todos os sóis? Não caímos continuamente? Para trás, para os lados, para a frente, em todas as direções? Existem ainda ‘em cima’ e ‘embaixo’? Não vagamos como que através de um nada infinito? Não sentimos na pele o sopro do vácuo? Não se tornou ele mais frio? Não anoitece eternamente? Não temos que acender lanternas de manhã?>>>

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Os verdadeiros valores foram mortos e o homem louco – que poderia ser o filósofo – diz que mataram Deus, apagaram o horizonte e acabaram com o sol. O homem se esconde atrás do horizonte das aparências, onde a bondade é o mesmo de ser humilhado, achar que o justo é tolerar a igualdade. Os países socialistas mostraram que nem sempre o conceito de igualdade – nos moldes do cristianismo que não foi tão igualitário na idade media – se mostra eficaz, porque não é uma questão de educação e o problema foi o racionalismo. Porque no racionalismo se forjou o materialismo histórico e forjou o positivismo comteriano, onde a ciência era a grande salvadora do mundo. 

Sem dúvida nenhuma que a ciência teve grande capacidade de dar ao ser humano uma vida-longa e com saúde, nós, pessoas com deficiência, temos melhores cadeiras de rodas, aparelhos e melhores tratamentos. Porém, a ciência automatizou as guerras e milhares de pessoas morreram com as bombas atômicas e morrem pessoas por causa dos testes nucleares, das usinas e por ai vai. A idealização da ciência fez o ser humano imaginar que liberando e ampliando a informação, haveria uma nova evolução e o ser humano seria melhor. A economia iria ter um novo caminho e as pessoas poderiam comprar e consumir tudo, mas, não disseram que sem a educação não adianta informação e nem tecnologia. Assim como, se não tem a consciência do preço justo e certo, as pessoas têm suas próprias personalidades. 

O ser humano moderno matou Deus, mas, não matou a divinização. Divinizamos jogadores de futebol. Divinizamos políticos. Divinizamos até mesmo as famílias que deveríamos amar como indivíduos autônomos. Porque idealizamos imagens de um mundo ideal e não um mundo que existe na realidade. Porque, na verdade, nem mesmo sabemos se isso aqui é real mesmo ou é uma ilusão. As verdades mudam e os fatos nunca são absolutos. Nunca se ama a sua essência e sim, o que idealiza. Isso cria uma negação da vida, porque temos que montar um personagem. Exato. Escondemos o que somos para sermos aquilo que é interessante ser. Não amamos as pessoas como elas são porque não amamos elas, amamos a nossa própria imagem. 

O poder sempre faz uma reprogramação quando aquilo não interessa mais e isso tem sido feito cada vez mais rápido, no mundo moderno. E a juventude não tem mais aquilo que se tinha, a aceitação da vida, a vida como ele deve ser e que o mundo não é como queremos. Na verdade, Nietzsche coloca toda a doutrina que ousa colocar o ser humano como igual, uma ideia do fraco – por isso mesmo, ele não pode ser chamado de nazista – porque são niilistas, ou seja, negam a vida. Todo mundo que nega o agora é um niilista, nega o hoje para reverenciar um amanhã que, talvez, nunca chegue. Por isso mesmo, herdando de Schopenhauer, Nietzsche elogia o budismo que só se importa com o agora. 

Claro, nem tudo podemos concordar do filósofo. Ele exaltar o mundo grego não faz sentido num modo realista, mas, no modo idealista como a parte heroica, o amor ao belo, entre outras coisas, fazem dele também um idealista. Os gregos antigos eram povos avançados em alguns sentidos, mas, em outros sentidos continuavam com os hábitos de escravidão, ainda condenavam pessoas por interesses (vide Sócrates), ainda se tinha toda uma cultura voltada a cada polis. Apesar que há uma certa discussão entre antropólogos – mostrado nas redes sociais – se o ser humano evoluiu o bastante para aguentar toda essa tecnologia. Muitos acham, que ainda somos aqueles caçadores e coletores. 

Uma outra coisa que não concordo com ele é associar Sócrates e Platão ao advento do cristianismo e vamos falar sério, o cristianismo não estava em alta no século dezenove. Além do mais, não foi só Platão que foi colocado como uma explicação teológica por Santo Agostinho, mas também, Aristóteles por Santo Tomás de Aquino. Nem sempre o racionalismo é ruim, pois ele vão te dar base de pensar ou não pensar o que você vai fazer e sem o racionalismo, o cristianismo iria ser muito pior do que foi. Por outro lado, do mesmo modo que Sócrates pregava que deveríamos conhecer a si mesmo, Nietzsche dizia para ser o que você é. Não é o mesmo?